terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

CARACTERÍSTICAS DA DEMOCRACIA GREGA


A DEMOCRACIA GREGA: CARACTERÍSTICAS
A Grécia é o berço da democracia. Foi especialmente em Atenas onde ela se desenvolveu com vigor, especialmente no governo de Péricles compreendido entre os anos de 449-429 a. C. O desenvolvimento da democracia grega era fruto de uma lenta transformação cultural sofrida pela sociedade grega ao longo de sua história decorrente da laicização da cultura em todas as suas dimensões, tudo isto graças ao desenvolvimento das tragédias gregas, especificamente as de Ésquilo e Sófocles.
A democracia grega tinha características específicas os quais se deve aqui salientar. Embora se proponha como governo do povo como sugere o próprio termo, não era bem desta forma que acontecia. Da democracia ateniense só poderiam participar os cidadãos livres. Eram considerados cidadãos livres aqueles que não exerciam nenhuma atividade manual, ou seja, os senhores proprietários de terra donos de escravos. Não podiam participar: mulheres e escravos. Desta maneira, o círculo daqueles que poderiam participar das decisões era bastante restrito. Não é muito diferente do que é hoje.
Dentro deste restrito círculo é que a democracia acontecia. Nas assembleias todos tinham direito à palavra e a igualdade na hora da votação. No entanto, os mais afeiçoados à retórica tinham maiores chances de conquistar simpatizantes para atender aos seus interesses. É neste ambiente, onde aquele que tinha domínio da retórica conquistava tudo o que queria que, surge o sofista.
Os sofistas eram professores que, em troca de remuneração, ensinavam, entre outras ciências, a arte de persuadir, a retórica. Ter o poder de convencer os interlocutores nas assembleias com destreza era a virtude (aretê) que deveria ser desenvolvida nos jovens que procuravam os serviços destes preceptores. Dentre os vários sofistas que a Grécia conheceu podemos destacar: Protágoras de Abdera (cerca de 480-410 a. C.), Górgias de Leontinos (cerca de 487-380 a. C.) e Hípias (século V a. C.).
Os sofistas relativizavam a possibilidade da verdade e criticavam as especulações filosóficas afirmando que os filósofos, diante da real incapacidade de falar do ser, bem como do não-ser, faziam uso de uma linguagem pouco clara deturpando, portanto, os diálogos disfarçando a impossibilidade de atingir seu real objetivo que era tentar desvendar os mistérios da natureza. Diante desta prerrogativa é que os sofistas prometiam algo mais “real” que era a capacidade de vencer debates nas assembleias. Para eles, o âmbito da linguagem, vinculada apenas às circunstâncias, às conveniências e às relativizações era o instrumento necessário para se ter êxito nas disputas travadas nas assembleias. Para se vencer uma litigiosa e acalorada querela se deveria apelar para os valores, mas moldando-os aos interesses do interlocutor, eximindo-os, portanto, do caráter absoluto e universal.
É importante esclarecer que a relativização dos valores morais não teve nos sofistas seus pioneiros, mas foi a própria evolução da sociedade grega que propiciou este acontecimento. Os sofistas, na verdade, foram os responsáveis pela sua instrumentalização através da linguagem retórica nos discursos persuasivos dirigidos nas assembleias. Eles foram pioneiros no aperfeiçoamento da arte de convencer que, na verdade, era o que norteava as acirradas disputas nos debates entre os oradores.
Assim a democracia grega, longe de ser um doce sonho de igualdade, nada mais era que a expressão de uma sociedade extremamente estratificada, onde os mais nobres colocavam seus interesses acima dos anseios da maioria que ficava excluída das decisões políticas.

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